Cultura Sami na Lapônia Finlandesa

Tradições, Crenças e Vida Ancestral no Coração do Ártico

A cultura Sami é uma das mais antigas e fascinantes da Europa, além disso, sua presença na Lapônia Finlandesa é um testemunho vivo de resistência, adaptação e conexão com a natureza. Os Sami são o povo indígena do norte da Finlândia, Noruega, Suécia e partes da Rússia, com uma identidade própria construída ao longo de milhares de anos em ambientes rigorosos do Ártico.

O idioma Sami: múltiplas línguas de um povo milenar

Existem várias línguas Sami, que formam um grupo linguístico dentro da família fino-úgrica. Na Lapônia Finlandesa, o sami do norte (ou sámi do norte) é a variante predominante, considerada oficial em algumas áreas do país. Embora muitos Sami sejam bilíngues e falem finlandês, o esforço para preservar e revitalizar o idioma nativo continua sendo uma parte fundamental da identidade cultural.

O idioma é muito mais que comunicação: ele expressa a cosmovisão Sami, suas relações com o ambiente, animais e o cosmos. Muitos nomes de lugares na Lapônia têm origem no sami e carregam significados ligados à geografia, fauna e história local.

Espiritualidade e cosmovisão Sami

A espiritualidade Sami é profundamente ligada à natureza e aos elementos. Antes da cristianização, os Sami praticavam uma religião animista, acreditando que montanhas, lagos, árvores e animais possuem espíritos e forças vitais.

O xamanismo tinha papel central. Nessa prática, os xamãs (conhecidos como noaidi) mediavam entre o mundo humano e o espiritual por meio de cantos, rituais e instrumentos como o tambor sagrado (runebomme). Embora hoje muitos Sami sejam cristãos, essas crenças ancestrais ainda permeiam costumes, músicas e artes.

O joik: a alma musical Sami

O joik é uma das expressões culturais mais emblemáticas do povo Sami. Diferente de uma canção tradicional, o joik é uma forma de canto que busca capturar a essência de uma pessoa, animal, lugar ou sentimento, sem necessariamente usar palavras diretas. É uma expressão pura e meditativa, transmitida oralmente por gerações.

Cada joik é único e personalizado, além disso, pode ser considerado não apenas uma homenagem, mas também uma profunda conexão espiritual. Historicamente, o joik servia também para rituais e como forma de preservar histórias e mitos.

Artesanato Sami: tradição e significado

O artesanato Sami, conhecido como duodji, vai muito além da estética. Além de sua beleza, é uma manifestação prática e simbólica da cultura. O duodji inclui trabalhos em couro, madeira, ossos, tecido e metais, criando roupas tradicionais, joias, utensílios e objetos decorativos.

Os padrões e cores usados carregam significados específicos, como pertencer a um clã ou região, e a técnica de produção é passada dentro das famílias. O traje tradicional Sami, o gákti, é um exemplo emblemático, usado em festividades e ocasiões especiais, cheio de detalhes que indicam origem, estado civil e outras informações sociais.

A importância das renas na cultura Sami

Para os Sami, a rena é muito mais que um animal domesticado: ela representa a sobrevivência, a identidade e a espiritualidade. A criação de renas é uma atividade comunitária que exige conhecimento profundo do território, clima e comportamento dos animais.

As rotas migratórias das renas acompanham as mudanças sazonais e, por essa razão, determinam o modo de vida do povo Sami, além disso, influenciam diretamente a moradia, a alimentação, e até mesmo as celebraçoes. O manejo sustentável das renas é um exemplo admirável de equilíbrio entre uso dos recursos naturais e respeito ambiental.

Festivais e preservação cultural

Na cidade de Inari, no coração da Lapônia Finlandesa, acontece todos os anos o Ijahis Idja, cujo nome significa “Noite Sem Noite” no idioma sami do norte. Este é o único festival da Finlândia totalmente dedicado à música Sami, reunindo artistas locais e de outros povos indígenas para celebrar a cultura e as tradições do Ártico.

A edição de 2025 será nos dias 15 e 16 de agosto, no Centro Cultural Sami Sajos, e vai transformar a pacata Inari em um grande palco a céu aberto, literalmente, já que o fenômeno do sol da meia-noite ainda estará presente.

Durante o festival, o público poderá ouvir desde o tradicional joik. além disso, há fusões modernas com rock, pop e música eletrônica.A programação inclui apresentações de nomes como Áššu, Ella Marie, Kajsa Balto e SlinCraze, além de oficinas culturais, exibições de artesanato tradicional (duodji), competições típicas como o suopunginheitto (arremesso de laço) e atividades para toda a família.

Um detalhe especial: o ingresso do evento garante entrada gratuita ao Museu Siida, onde é possível conhecer mais sobre a história, a arte e a vida do povo Sami. Mais do que um festival de música, o Ijahis Idja é um ponto de encontro cultural que mantém viva e pulsante a identidade Sami na Lapônia Finlandesa.

A cultura Sami na Lapônia Finlandesa não é apenas história — é uma expressão vibrante e contemporânea de identidade, tradição e criatividade. O Ijahis idja exemplifica esse espírito, reunindo música ancestral, rituais e artes tradicionais, tudo sob o signo da “Noite Sem Noite”.

*fotos por Andrej Lišakov

Respostas

  1. […] região abriga uma rica cultura indígena Sami. Portanto, você pode aprender sobre tradições milenares, artesanato típico e até mesmo […]

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